Entrevista com Paulo Pires

 "Segundo o pensador Boaventura Sousa Santos, nem ao Advogado, deveria ser exigido diploma. O conhecimento independe disso. Tem gente que tem diploma, mas não tem conhecimento. Os primeiros professores não tinham diplomas.  Assim como os primeiros reis não eram descendentes de famílias nobres."

Qualquer pessoa em Conquista que acesse um blog local, com certeza já leu algum artigo dele. O professor de Ciências Contábeis , Paulo Pires é sem dúvida o leitor mais assíduo e interativo dos blogs. Pires chega a escrever mais de 2 artigos por semana e envia para praticamente todos os sites. Podemos considerá-lo o maior articulista dos blogs locais.

O senhor escreve vários artigos por semana e colabora com praticamente todos os blogues da cidade, o que o motiva?
A ilusão de poder me comunicar com o mundo exterior. Cabral de Mello Neto, dizia que a literatura para ele era como uma muleta. Para outro autor famoso, que agora não recordo o nome, escrever era uma forma de expulsar de dentro de si, os demônios. No meu caso, é uma forma de prazer.

Visto que o senhor escreve tanto, porque não criou seu próprio blog?
Sou um blogueiro amador. Aliás, tudo que faço (ou quase tudo) é baseado no amor. Por isso me considero amador.


O “jornalismo cidadão” é aquele em que o cidadão comum, cria seu blog e começa a divulgar notícias, isso democratiza mais a mídia ou seria uma ameaça à credibilidade do jornalismo dos blogues? 
A informação hoje está mais democratizada. Principalmente o visual. Veja o caso recente do Irã. O que o governo proibiu não deixou de ser visto. Os celulares entraram em ação com a Internet e o senhor Ahmadinejad se ferrou.

O que deveria  melhorar nos blogs locais?
Acho que nossos blogs estão quase no mesmo nível dos blogues medianos do Brasil. Claro que não os compararemos com os blogs de Noblat e outros desse nível.  O que nos falta é mais dedicação. A maioria dos nossos blogueiros, não vive exclusivamente para o seu blog. Ao contrário, tem-no como bicos e atividades secundarás.

O que é ser jornalista na sua concepção?
É atuar em uma atividade que exige muita responsabilidade. Um jornalista sem ética é um destruidor de pensamentos, raciocínios, realidades.. Portanto, a profissão de jornalista exige compromissos e isenção com os fatos.

Na sua opinião, blogueiro é jornalista?
No sentido clássico, não. O blogueiro não é jornalista. Mas se atentarmos para o significado dessa expressão nos tempos modernos, poderemos aceitar que ele o seja, porque hoje existem diversos tipos de especializações jornalísticas. E se esse blogueiro for uma pessoa ética, comprometida com a verdade, e exercer sua função com afinco, ele pode se auto-intitular jornalista. Lembrando que o jornalismo impresso, principalmente do jornal de bancas, está  com um pé na extinção. A situação dos jornais pelo mundo afora é complicadíssima. Nos Estados Unidos a situação do New York Times e do Los Angeles Today (entre outros) não é fácil. No Brasil nossos grandes jornais (Folha, Estadão, JB, O Globo) estão sentindo o impacto do esgotamento desse tipo de veiculo de comunicação. As razões são as mais diversas.  Desde a Ambiental, passando pela Financeira até chegar a outros veículos de comunicação que informam com mais agilidade e a um custo muito menor para o usuário.

O senhor é a favor ou contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo?
Segundo o pensador Boaventura Sousa Santos, nem ao Advogado, deveria ser exigido diploma. O conhecimento independe disso. Tem gente que tem diploma, mas não tem conhecimento. Os primeiros professores não tinham diplomas.  Assim como os primeiros reis não eram descendentes de famílias nobres.

Como o senhor avalia, de forma geral, a qualidade da imprensa conquistense?
Por incrível que pareça, pela história de nossa cidade, em décadas passadas, tínhamos jornalistas mais destacados que atualmente. Havia, por exemplo,  Bruno Barcelar, Camilo de Jesus Lima,  Nathur de Assis,   Laudionor Brasil, Maneca Grosso, o Alziro Prates e outros igualmente bem votados. Embora hoje tenhamos escola de Comunicação, parece que a  maioria dos concluintes desse Curso, prefere fazer concurso e ser professor de Português. Como são ainda muito jovens, os nossos bacharéis em jornalismo ainda não aparecem na cena jornalística conquistense. Mas isso é corriqueiro em outras profissões. Por exemplo, a Contabilidade. Embora o nosso curso de Ciências Contábeis esteja se aproximando dos 20 anos, ainda continuamos com nossos velhos Contadores sendo as maiores expressões desse universo profissional em nossa cidade.

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