Este Blog é produto complementar do trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, produzido por Carlos Henrique dos Santos sob a orientação do professor José Duarte.
Mais informações ou mesmo a cópia do Relatório Técnico pode ser solicitada pelo e-mail contatocaique@gmail.com
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais polêmicas e subjetivismos que o tema proposto neste trabalho possa levantar, algumas coisas ficaram claras ao analisarmos detidamente as entrevistas com blogueiros, público e jornalistas. Ainda que tais evidências, garimpadas nos discursos das partes envolvidas, não sejam por si só suficientes para responder a questão, servem para nos aproximar de conclusões importantes no estudo do caso.
O jornalista não consegue se impor como tal perante a comunidade, simplesmente pela posse da graduação. O público tem papel fundamental em eleger quem é jornalista. O respaldo que o comunicador tem perante a sociedade, sua empatia com o público e o nome da empresa de comunicação que lhe dá suporte, ainda são alguns dos pilares que contribuem para que a massa o identifique como jornalista.
A atenção dada neste trabalho aos blogs justificou-se por servirem como plataforma midiática de fácil acesso e amplo poder de alcance, disponível a qualquer cidadão, jornalista ou não, para que possa divulgar suas idéias, opiniões e até notícias.
O rádio, a televisão, revistas e jornais impressos foram sempre reservados a um seleto grupo de pessoas. O máximo de acesso que um cidadão comum poderia obter era através de cartas enviadas às redações, restritas as seções destinadas à participação dos leitores e em pequenas e raras entrevistas para a televisão e rádio.
Nunca as emissoras de rádio e televisão nem as redações dos jornais e revistas, disponibilizaram seus equipamentos para que qualquer cidadão tivesse acesso e pudesse se expressar livremente. Nem mesmo as rádios e TV´s comunitárias cumpriram seu papel de dar voz ao cidadão.
A chegada da internet e principalmente dos blogs, propiciou aos “sem-mídia”, uma experiência jamais vista no mundo, em termos de democratização da mídia.
Os blogs, por serem páginas para a internet pré-formatadas e customizáveis, possibilitaram que pessoas sem nenhum conhecimento de linguagem de programação, criassem em poucos minutos, sua página pessoal, com excelente grau de navegabilidade, endereço próprio, e o mais importante, gratuito.
O blog nada mais é que uma ferramenta, que como outra qualquer, não tem o poder de tornar alguém profissional simplesmente pelo fato de possuí-la, assim como um indivíduo não se tornará automaticamente um piloto por ser proprietário de um avião.
Ter um blog e publicar ou reproduzir notícias, não fará de ninguém um jornalista a menos que o conteúdo gerado pelo blogueiro faça com que os leitores o elejam com tal, mesmo que o trabalho desenvolvido não prime pelas técnicas ensinadas na academia.
Ao questionarmos neste trabalho se o blogueiro seria ou não jornalista, não se pretendeu debater a questão do diploma nem estudar ferramenta chamada de blog, mas sim a qualidade do que está sendo produzido com o uso dela. Se ao invés dos blogs as pessoas usassem o Twitter para divulgar informações, a questão seria: Os “twitteiros são jornalistas?” ou no caso do Orkut, os “orkuteiros são jornalistas?”.
Embora a internet e a banda larga ainda estejam distantes de chegar aos lares da grande massa, a popularização global da comunicação é um fato incontestável. Tudo isso somado à queda da obrigatoriedade do diploma, não apenas no Brasil mais em diversas partes do mundo, faz com que o jornalismo passe por um processo de evolução no qual a academia não pode mais prescindir do debate.
As principais falhas apontadas pelos jornalistas contra os blogueiros, são válidas, no entanto são as mesmas apresentadas também por jornalistas formados, com a diferença que estes últimos tem uma obrigação maior em não cometê-las, se entendermos que a academia faz a diferença.
Simplesmente determinar que os blogueiros sem formação acadêmica não são jornalistas e nos voltarmos para nossos livros e teorias de décadas passadas, é ignorar de forma arrogante um movimento estritamente ligado a comunicação e que já é conhecido mundialmente como “jornalismo cidadão”.
É necessário repensar todo o conceito de jornalismo tradicional em consonância com as novas tecnologias de comunicação e do jornalismo 3.0, bem como contextualizar o papel do jornalista dentro de uma sociedade cada vez mais interconectada, onde o papel de emissor e receptor de informações é intercambiável.
Independente da ferramenta que o jornalista se utiliza para trabalhar, seja ele formado ou não, o que o tornará um profissional respeitado e reconhecido continuará sendo os antigos princípios básicos que norteiam o jornalismo tradicional, sendo a ética o “carro-chefe” deles.
Ao compararmos o trabalho dos blogueiros com o dos jornalistas provisionados que ocupam espaço no rádio e impresso local, percebemos que os blogs parecem apenas espelhar o mesmo jornalismo deficiente e viciado, tendo como diferencial apenas o fato de não gerar lucro.
Os blogueiros da cidade podem ser considerados jornalistas se o critério de avaliação for extremamente aquém do ideal, não necessariamente levando em conta a questão da formação acadêmica. Não é o fato de serem “blogueiros” que desqualifica a maioria como jornalistas, muito menos a falta do diploma, mas sim o nível do trabalho apresentado, que deixa a desejar, se levarmos em conta um público internauta cada vez mais informado e exigente.
O webjornalismo local ainda tem um longo caminho a trilhar e muito fôlego para isso. O fato dos blogs mais acessados na cidade pertencerem ou estarem de alguma forma ligados à “velha guarda” do jornalismo conquistense representa um atraso para a evolução desse movimento, cuja principal característica é o rompimento com velhos paradigmas.
Os jornalistas formados, alunos, professores, teóricos e as Instituições de ensino, devem considerar com urgência a possibilidade de repensar a forma de lidar com as novas mídias sociais e dar o “start”, coordenando os rumos do webjornalismo local para que futuramente a cidade tenha um jornalismo renovado, moderno e condizente com maturidade dos internautas.
3 comentários:
Primeiramente...parabéns pelo seu trabalho!
O fim da exigência do diploma de jornalismo no Brasil tem muitos aspectos e peculiaridades a serem investigados ainda. Mas um deles o seu trabalho comprova: o jornalista, especialmente os que tiveram acesso a academia, precisava despertar para o questionmento acerca do seu papel nessa sociedade "on-line". A internet e toda sua gama de informações nos faz essa pergunta diariamente...Para finalizar meu post: Na minha opinião, nem todo bogueiro é jornalista, o que não implica que ele não produza bom conteúdo. E tem que existir bons jornalistas blogueiros!
Sucesso!
Natália Oliveira
Caro Caique, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu trabalho. Como egresso dessa Universidade, cada vez mais felicito-me e orgulho-me com o nível dos TCCs que tenho acompanhado; talvez eles sejam um indicio de que uma universidade não é tão indispensável assim, como apregoa o excelentíssimo Ministro e presidente do STF Gilmar Mendes. Os blogs constituem de fato uma importante ferramenta de comunicação, que amplia imensamente a liberdade de expressão e pensamento. No entanto, entendo que é necessário deixar de lado certos pudores românticos e refletir sobre as responsabilidades que a liberdade traz consigo. Sou contrário a todo e qualquer mecanismo que limite a liberdade de expressão, desde que seja uma liberdade responsável e consciente das conseqüências e da força das palavras. Infelizmente tenho observado demasiadas falhas nas condutas de alguns blogueiros, seja por falta de apuração, por defender interesses próprios e não entender que cada individuo per si tem total direito a pensar o que quiser, mas que a partir do momento em que decide compartilhar informações, assume uma responsabilidade que exige a observância de determinados preceitos. Acho oportuno que essa discussão se dê num momento em que o país, e os jornalistas em especial, se deparam com a decisão do Supremo Tribunal Federal de revogar o decreto-lei que instituía a obrigatoriedade do diploma para a exercer o jornalismo. Nesse sentido, embora saiba que não é o primordial objetivo do seu trabalho discutir esse assunto, peço vênia para tecer breves comentários. A começar pelas justificativas apresentadas pela Suprema Corte. Em um deles, os ministros sustentam que a não obrigatoriedade do diploma seria para garantir a liberdade de expressão. Acredito que aqueles que gozam de um nível razoável de bom senso hão de convir que é balela; se o objetivo fosse mesmo esse, haveria que reformular não a formação dos jornalistas, mas antes, democratizar os meios, diga-se de passagem, praticamente monopolizados por duas ou três famílias; teria que se refletir sobre normas para a concessão de rádios e Tvs, como sabemos, grande parte servindo a interesses políticos e econômicos. Mas esses debates, obviamente não chegam a ser cogitados nas pautas de discussões. Sem se falar ainda que minimizar a importância da imprensa e dos profissionais que a fazem, não garantir à sociedade que esses profissionais sejam minimamente capacitados, não contribui em nada com a democracia. Em um outro ponto, concordo que o cotidiano no mercado de trabalho ensina muito, talvez até mais do que as faculdades, não só sobre o jornalismo, mas também como em várias outras profissões. No entanto, contentar-se a aprender a reproduzir o que está sendo feito sem adquirir os meios necessários para pesquisar, ampliar os horizontes, estudar as teorias, aprender a questionar as práticas do próprio cotidiano vivenciado, essas pequenas bobagens que a faculdade nos propicia, acredito que prescindir disso, é assinar um perigoso pacto com a mediocridade. Quanto à constituição federal de 1988, a constituição cidadã, ela própria garante que protegerá as profissões da automação. Exceto, é claro, segundo o entendimento do STF, os jornalistas. Esses sim, devem ser um bando de autômatos. Para os que não sabem o que isso significa, autômato nada mais é do que aquela pessoa inconsciente, cujos atos obedecem à vontade alheia ou não são precedidos de reflexão.
PS: copiei o significado de autômato da internet, mas não me senti na obrigação de colocar entre aspas ou citar fontes. Sou um autômato.
J. Dannieslei
"Caro Caíque, parabéns pela iniciativa - original e fundamental no momento que nós, jornalistas e professores, passamos por uma 'crise de identidade'. Penso que, realmente, precisamos rever nossas ideias sobre o que é jornalismo e o que é ser jornalista (as 'velhas' teorias não dão conta mais de explicar tendo em vista essas novas tecnologias e possibilidades abertas com a internet). De qualquer maneira, creio que o caminho para os jornais e os jornalistas é, fundamentalmente, descer do pedestal e assumir, de fato, seu papel na sociedade, que não é, definivamente, 'historiar o presente' - para isso temos os historiadores -, mas, assegurar a manutenção da democracia e formar cidadãos (informar é meio, não fim dessa atividade). Se não tomarmos essa iniciativa, quem está fadado a desaparecer não são os jornais (especialmente os impressos, como se tem aventado) mas os jornalistas..."
Marcus Lima - prof. UESB
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